quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Entrevista com a escritora Glaucia Lewicki

Nascida em Niterói, em 1970, numa sexta-feira 13 de muita sorte. Vinda de uma família de educadores, sempre teve paixão por inventar histórias. Formada em Comunicação Social, fez sua estreia na literatura infanto-juvenil em 2003. Em 2006, recebeu o Prêmio Barco a Vapor - um dos mais importantes do mundo para textos inéditos. Glaucia não consegue parar de inventar histórias, pois, para ela, criar personagens e situações que mexem com os leitores é não apenas um desafio, mas também um imenso prazer.



Nome completo: Glaucia Costa Lewicki. O Costa vem do meu avô português e o Lewicki é polonês.

Idade: Nasci no dia 13 de fevereiro de 1970. Sou de Aquário com ascendente em Capricórnio!

Com que idade começou a escrever?

- Eu sempre gostei de escrever. Desde criança, escrevia histórias para mim, para os colegas de colégio, para os primos... Mas elas só começaram a se transformar em livros em agosto de 2003, quando foi publicado Coelhos na Cartola, o primeiro deles.

Como você entrou no mundo literário?

- Entrei nesse mundo através de uma boa colocação em um concurso de literatura e de um empurrãozinho do destino. Em 2001, participei do Concurso João-de-Barro, promovido pela prefeitura de Belo Horizonte. Havia 638 textos e o meu, chamado “A Conspiração Esquecida”, ficou entre os dez finalistas selecionados pelo júri adulto. No ano seguinte, conheci Fernando Franco, o dono da Franco Editora, em um encontro na escola em que eu trabalho. Como a editora era nova, Fernando ainda estava montando seu catálogo, procurando por novos autores e ilustradores para compô-lo. Ao contar sobre o concurso, ele se interessou em conhecer esse texto e mais todos os outros que eu pudesse ter guardados. No ano seguinte, publicou meu primeiro livro, direcionado ao público infantil. Alguns anos depois, publicou o original do concurso com algumas modificações.

Existe algum escritor nacional, ou de outro país que te inspira? Quem?

- Inúmeros. Monteiro Lobato, Lygia Bojunga, Fernanda Lopes de Almeida, Ganymedes José, Carlos Heitor Cony, Stella Carr e Pedro Bandeira estão entre os autores nacionais que escrevem para crianças e jovens que mais me inspiraram.
Hoje, gosto muito dos espanhóis Carlos Ruiz Zafón, Laura Gallego García, Andreu Martín e Jaume Ribera. Já entre aqueles que escrevem para adultos, não posso deixar de citar Isaías Pessotti, um psiquiatra de São Paulo que escreveu três romances que eu adoro; um deles, inclusive, obteve o Jabuti de melhor livro do ano de 1994: Aqueles Cães Malditos de Arquelau. Também gosto de Bernardo Carvalho, do Rubem Fonseca, do Luiz Alfredo Garcia-Roza, do português José Rodrigues dos Santos, do italiano Ítalo Calvino, do argentino Pablo de Santis, do inglês Ian McEwan, dos norte-americanos Jonathan Safran Foer e Paul Auster...

Já ficou presa a alguma saga de livros? Qual?

- Sou movida a sagas! Quando eu me apego ao tipo de história que está sendo contada e, mais importante ainda, aos personagens, fico ali, grudada naquela série, até o fim. Guardo todos os detalhes de cor, acompanho, torço, sofro, compro o livro antes de ser traduzido para o português (no caso de ser estrangeiro), enfim, esgoto toda a minha vontade de viver aquela história e começo a acompanhar outra saga com mais interesse. Mas, se fico sabendo de um novo livro da saga anterior, acabo não resistindo e dando uma espiadinha! É como se estivesse matando as saudades de velhos amigos.
Entre as séries para jovens que eu acompanhei recentemente, ou ainda acompanho, estão Harry Potter, da J.K. Rowling, Percy Jackson e os Olimpianos, do Rick Riordan e o 39 Clues, escrita por diversos autores. Entre as espanholas, gosto da Série Flanagan, de Martín e Ribera. Das portuguesas, adorei O Clube das Chaves, de Maria Teresa Maia Gonzalez e Maria do Rosário Pedreira, além da série Guerreiros da Luz, da Isabel Ricardo Amaral. Aqui no Brasil há a série dos Karas, de Pedro Bandeira, as aventuras escritas por João Carlos Marinho a partir de O Gênio do Crime (livro que é um ano mais velho que eu, mas que ainda bate um bolão), Os Invencíveis, da Ana Cristina Massa... Nossa, tem muita história boa em série por aí!

Nos quadrinhos, sou fã das sagas do Quarteto Fantástico da virada da década de 70 para 80 e da segunda geração dos X-Men, com Wolverine, Tempestade, Noturno, etc...
Ah, e apesar de adorar histórias de vampiros, ainda não engrenei em nenhuma dessas séries vampirescas ao estilo de Crepúsculo! Ainda não bateu aquela vontade, mas, um dia, quem sabe?...



O que você acha que a literatura nacional tem a mostrar?

- Acho que a literatura nacional anda descobrindo alguns espaços novos entre os leitores. Para ficarmos na área infanto-juvenil, a produção, dos anos 70 para cá, só fez aumentar em quantidade e qualidade. Atualmente, vejo um crescimento da literatura de entretenimento, ou seja, daqueles livros que não fazem parte do perfil das leituras escolares. Harry Potter, apesar de ser um produto estrangeiro, abriu um grande filão entre os pré-adolescentes e os adolescentes propriamente ditos; a Thalita Rebouças, uma autora brasileira, também vem conseguindo boas vendas e bastante aceitação fora das escolas com seus livros. Aliás, ao provar que gosta de ler, o adolescente brasileiro começou a virar o jogo dentro das escolas. Muitas indicações dos professores, hoje em dia, além de se preocuparem com o tema do trabalho a ser desenvolvido, também se preocupam com o prazer que seu aluno terá com o livro. Com o crescimento desses espaços, é possível dizer que ainda tem muita coisa nova e interessante para ser escrita e, também, lida.

Qual a dica que você dá para quem quer ingressar nesse mundo literário brasileiro?

- Ler, ler e ler seria a primeira delas. Depois escrever. Qualquer coisa. Diário, blog, um romance ou uma fanfic (ficção produzida por fãs a partir de personagens e histórias criados por outro autor). O exercício de colocar o pensamento no papel (O.K., na tela do computador) é fundamental, pois exige lógica, clareza e disciplina, e essas coisas não se conquistam de uma hora para outra. Outro ponto importante é ter dúvidas e tirá-las, sempre. Mas as dúvidas só aparecem se tivermos um termo de comparação. Daí a importância da leitura não apenas como uma forma de exercitar o pensamento ou observar o estilo de um autor, mas também como uma maneira prazerosa de fixar a forma correta do uso do instrumento de trabalho, ou seja, da língua.
Quanto ao fato do mercado brasileiro, a melhor recomendação a ser dada a um novo autor é ter paciência e persistência. Esse mercado está crescendo e se diversificando. Aconselho a quem deseja entrar nesse meio a buscar concursos de literatura, bem como editoras de pequeno e médio porte para mostrar seus originais. As grandes dificilmente terão disponibilidade para conhecer o trabalho de um autor desconhecido.


De tantos livros que você já publicou, você tem algum preferido?

- Tenho três: Paloma, pela Franco Editora, para o qual produzi uma versão em Braille; O Mistério da Conspiração Esquecida que, de certo modo, deu o pontapé inicial nisso tudo, e o Era mais uma vez outra vez, vencedor do Prêmio Barco a Vapor 2006, acolhido com muito carinho pelos leitores e pela crítica.

Está com algum novo projeto em mente? Se tiver, pode adiantar alguma coisa?

- Quero fechar a minha série dos museus. Já estou no capítulo 5 do último livro, que tem como título provisório O Desafio do Museu da Língua Portuguesa. Desta vez, o foco da ação será em São Paulo. para adiantar que os oponentes dos protagonistas estão mais poderosos do que nunca, e que teremos uma batalha medieval em pleno século XII.

Aqui vai um trechinho do primeiro capítulo:

No centro da cidade, protegidos pelas paredes forradas de livros do Real Gabinete Português de Leitura, Diana e Hugo sussurravam:
— Por que você acha que a nossa oportunidade de derrotar a Confraria das Sombras pode estar próxima? — perguntou Hugo.
— Porque há uma agitação no ar. Eles estão armando algo grande.
— Como o quê?
— Não sei. Eles não contam essas coisas a quem não está envolvida na missão.
— Você tem ideia de onde será o próximo ataque, pelo menos?
— No Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo.
Por um momento, Hugo ficou em silêncio. Depois, exclamou:
— Mas não há nada para se roubar por lá!
Antes que Diana pudesse fazer qualquer comentário, um prego passou zunindo entre eles. Na mesma hora, Hugo se atirou ao chão, levando a garota com ele.
— O que foi isso? — perguntou Diana.
— Não sei. Mas seja lá o que for vem mais por aí!
Confirmando o que Hugo dizia, outros pregos cravaram-se no chão, próximos a eles. Rolando, os namorados conseguiram se esconder debaixo de uma mesa. Àquela altura, as pessoas perceberam que algo errado estava acontecendo. O pânico começou a se instalar e elas abandonaram o local em meio a um grande tumulto. Várias mesas e cadeiras estavam destruídas. Estranhamente, não pareciam quebradas, apenas desmontadas e empilhadas de qualquer maneira por uma criança gigante.
— O que está acontecendo aqui, Hugo?
— Não sei! Mas pelo que estou vendo, temos que sair de baixo dessa mesa!
Antes que pudessem se mexer, o tampo que os protegia foi lançado para cima, como em uma explosão. Os pregos que mantinham a mesa unida cortaram o ar, espalhando-se com violência em diversas direções. Estavam totalmente expostos agora.

Uma mensagem para os leitores do blog:

- O computador e, por extensão, a internet, para mim, estão longe de serem vistos como inimigos da leitura. Quem souber usar essa ferramenta para trocar ideias e experiências, aproximar-se dos outros e produzir conhecimento, está, literalmente, conectado ao seu tempo. Tenho visto muitos jovens trocando dicas de leitura, escrevendo sobre livros, produzindo fanfics e também seus próprios textos a partir do encontro com outros jovens, em blogs como esse ou comunidades virtuais. As pessoas estão se agrupando por afinidades não apenas com os colegas de turma, mas descobrindo amigos que tem os mesmos gostos e que moram há quilômetros de distância. O mundo está se expandindo, bem como a quantidade de pessoas com as quais você pode trocar ideias, e isso é fantástico. Quando eu era adolescente, se quisesse viver uma experiência semelhante, tinha que me corresponder por carta com gente de outros países ou outras culturas. E isso levava semanas, quando hoje, é possível trocar opiniões, rir e brincar em tempo real. Além disso, o contato entre leitores, e também entre leitores e autores, foi facilitado pela internet, criando elos e possibilidades que não existiam com tanta intensidade há alguns anos. Quem souber explorar essa rede de contatos e informações pode obter dicas excelentes de leitura, produzir textos e divulgar seu trabalho; ou, simplesmente, ter o imenso prazer de conhecer gente que gosta das mesmas coisas que você. A leitura e a escrita são atividades solitárias; o amor por elas, não.


Obrigado pela sua atenção, e continue sempre brilhando. Vou ser sempre seu grande fã. E espero que cada vez você continue conquistando mais fãs pelo Brasil, e pelo mundo.

- Obrigada pelo espaço e pelas palavras carinhosas! Beijo grande e sucesso!

2 comentários:

  1. A Glaucia é uma grande escritora da literatura infantil e pré-adolescente. Eu, com 17 anos, confesso que adoro ler os livros dela. É um alternativo que as crianças têm em vez de ficarem assistindo programas inúteis na televisão. Ela ensina história de uma maneira tão leve que desperta o interesse em qualquer jovem.

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  2. era uma vez mais uma vez é muito bom recomendo

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